O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Dois Momentos

"Golden Moments"
(de John Trickett,
daqui)

Dois Momentos*

Tenho meus olhos fitos em frente
Onde mora o futuro,
E altos, erectos,
Bem por cima do Muro…

Sou como toda a gente:
Tenho momentos aflitos
E afectos.
E canto (produzo) e perduro,
Mesmo cheio de espanto…



*António Cardoso*
*(poeta angolano (1933-2006) 1/1/1972, cedido por Suzete Antão)

(Um) Copo de Vinho

“Frutos e vinho”
(Óleo sobre tela por Vera Lúcia F.;
daqui)

(Um) Copo de Vinho*

Bem, você já chegou e senta-se
Agacha-se num assento
Toma a refeição e acalenta-se
Num gole de vinho que mal entendo

Como pode uma poção
Dessas mudar-nos assim
Bater mais forte o coração
E se você se prende a mim

Copo de vinho
Um copo de vinho

*Noé Guill*
*(a nova poesia angolana; poema inédito, Março/2006)

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Neve nocturna

"Depois de uma noite de neve"
(foto daqui)
.
Neve nocturna*

Sentindo na noite
O silêncio pesado das vítimas

De solidão

Regressar a casa, revolver um passado demasiado presente.
Inconstante, ainda assim.

As feridas que ardem,
Que jazem nos corpos em movimento

Num rodopio trôpego, soluçante.
Sempre só(brio).

Um expectante sobressalto desperta
Na acalmia passiva das mãos abertas
Esperando

Contando os dias
As noites

Em branco.

Como a neve cristalina que cobre
O negro do chão

Manchado de sangue.

E quando a estrada acabar?

*Orlando Gilberto Castro*
*(jovem estudante português; os novos autores da Lusofonia; poema retirado daqui.)

Haverá amanhã para nós?

"Tomorrow"
(Aguarelas de AnneKarin Glass)
.
Haverá amanhã para nós?*

Meu amor,
Pode ser que não haja amanhã para nós
Porém, anseio que saibas que estou a viver um momento muito feliz da minha vida
Se os nossos caminhos se separarem, lembra-te sempre do quanto te amo
É teu o meu coração
É teu o meu amor.

Sinto-te na minha pele
Sinto-te dentro de mim
Sinto-te na minha mente
Sinto-te nos meus lábios.

*Suzete Madeira*
*(moçambicana; poema inédito, Dezembro-2006)

sábado, dezembro 16, 2006

Desenraizados

"Rosa de porcelana"
(Foto do lobitanga Amílcar Branco, tirada
daqui)

Desenraizados*

Nesta terra refúgio
vazia da nossa identidade
estrangeiros os passos
e a vontade…
Alheio o rosto
das coisas alheias
que nos olham…
Hostil o cenário
que passeamos indiferentes
com olhos vidrados de peixes mortos
fora do aquário…


*Amélia Veiga*
*(Poetisa angolana nascida em Portugal; do livro “As Lágrimas da Memória”, ed. Chá de Caxinda, 2006)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Vivo só

"Viúva de Luanda"
(Acrílico, de Toia Nueparth
)[+]


Vivo só*

Vivo só neste canto espaço bonito e tropical

Vivo só neste canto banhado pelo Índico e abençoado pelo Criador

Vivo apenas com a lembrança próxima (e ao mesmo tempo distante) da tua existência.

Até quando? Até quando enganarei o meu coração?

Sim! Até quando continuarei a viver só?

Até quando continuarei a viver apenas com a lembrança próxima (concreta e ao mesmo
tempo abstracta) da tua existência.
.
[+]NOTA: A pedido do autor(a) da obra (pintura) que estava inicialmente aqui ("Alone", de Heather Bowring), a mesma foi retirada sob pena de procedimento criminal por uso indevido da citada obra. Porque as imagens disponíveis da (e na) Internet e desde que não digam, explicitamente, que o seu uso depende de autorização prévia e desde que mencionado a fonte (como estava) não devem ser considerado, penso, como crime, ainda assim, satisfiz a vontade do autor(a).

*Suzete Madeira*
*(moçambicana; poema inédito, Dezembro-2006)

Eterna sentinela

"Cosmogonia do Imbondeiro"
(Tela de Filomena Conquenão, 1989,
daqui)


Eterna sentinela*

Abandonado e só,
o Imbomdeiro,
figura milenária do sertão,
tem a dolorosa expressão
de quem foi condenado
por toda a vida
a sofrer na costa de África
o seu destino maldito.

Não conhece os milagres do amor,
e junto a si jamais teve o carinho
ou a ternura saudável
da mais humilde flor.

Imbondeiro desgraçado,
filósofo triste e pensativo,
filósofo da paisagem,
mártir e santo que alguém tivesse encontrado
no inferno de Dante
e conduzisse a este sol abrasador:

- Tu és a estátua gigante
da minha dor!

*Tomaz Vieira da Cruz*
*(poeta luso-angolano; poema da obra Quissange, ed. Lello, 1971)