O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

domingo, junho 17, 2012

Contos da vida real 13: Foi ela que nos adoptou…

(foto ©elcalmeida)

Os animais continuam a mostrar que são eles que nos adoptam e não nós que o fazemos. Já conheço* – assim o penso, isto porque eles estão sempre a surpreender-nos, – esta gata há cerca de 6 anos.

Quase tantos quantos os que, periodicamente e sempre que posso, vou até ao Algarve ver e sentir o ar do nosso Continente Africano que a maresia nos oferece através de pequeninas e saborosas gotículas.

Pois ela vem ter sempre connosco no primeiro ou segundo dia, fica na varanda deitada, por vezes olha para a porta e para a portada abertas mas nunca, mas nunca, alguma vez, colocou uma pata que fosse no beiral delas.

Por vezes damos-lhe alguma coisa que coma e come como não quisesse fazer desfeita e volta a deitar-se.

Quando considera que já nos fez a sua companhia, vai se embora e volta no dia seguinte.

Até aqui, nada demais, se…

Se não fosse o facto de no dia que nos vamos embora, por regra, nunca aparecer à varanda como se procurasse evitar despedidas e soubesse que na próxima etapa aí estaremos de novo e, de novo, ela virá cumprimentar-nos.

E, complementarmente, a gata parece ser muda, mas, quando algum outro similar aparece onde ela considere não oportuno, não tem problemas em, diria… grunhir!

Todavia é interessante como ela é meiga e demonstra algum carinho com alguns dos que por lá andam, nomeadamente uma que tem todas as características semelhantes, como se fosse filha, com a particularidade de ser muda e quase cega.

Ainda desta última vez e no último dia, logo pela manhã, lá estava deitada entre a entrada e a porta junto ao muro-floral.

Discreta, muda, sossegada.

Se lhe derem alguma coisa de comida – o que aconteceu –, aceita, come, fica um pouco ali como que a fazer companhia agradecendo o gesto e vai-se embora.

À tarde, por volta do almoço, como que tendo percebido que nos iríamos embora e como não gostando de despedidas nem por lá passou.

Ou seja, continuou discreta, muda e sossegada desta vez num qualquer outro lugar que tenha adoptado.

Até uma próxima vez…

*Eugénio Costa Almeida*
*(feito algures no Algarve, Portugal, em Junho de 2012)