"Sem título"
.Recordo*
Recordo
aquela terra africana,
rica e esplendorosa
gigante e formosa.
Recordo
esta terra angolana.
Seus filhos,
hoje chagados,
outrora
felizes e quase unidos!
. Recordo
aquelas matas paradisíacas
e luxuriantes.
Os rios caudalosos,
torturantes
de belas margens floridas!
. Recordo
aquelas quintas e fazendas
roças e quimbos,
os cafezais,
e os bananais!
Recordo
aquelas tortuosas picadas
ombreando belas e serpenteantes estradas,
o rico mar,
verde-azulado e límpido
desfazendo-se em espuma
nos belos e quentes areais
das praias onde me desfiz!
Recordo
o contraste habitacional
que me fez pessoa de consciência.
As magníficas sanzalas,
por onde passei;
os quase indignos mas honrosos musseques,
por onde me desencontrei;
os arborizados bairros coloniais,
onde morei!
Recordo
aquela terra africana
que,
do mar à fronteira leste,
de Cabinda ao Cunene,
suas matas,
pântanos,
a todos nós,
sempre e sempre desafiava!
Recordo… Recordo
Recordo
e não quero deixar de recordar
de a amar,
de a desejar,
mesmo que alguns,
ínscios,
tudo façam e tudo orquestrem
para nos olvidar,
para nos calar!
Recordo… Recordo
*Lobitino Almeida N'gola
Lisboa, 1980.
2 comentários:
é sempre bom quando o nosso desejo de voltar não se cala, mesmo que essa volta seja em amálgama de palavras, recordações!
Abraços
Olá Lobitino, que coisa mais linda de poema! O poeta se desfez literalmente nas paisagens e agora revive na própria letra do amor à terra... Parabéns pela poesia e pelo blog. Abraços
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