O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

terça-feira, julho 15, 2008

Aquém

"Munyau Na Nyoka"
(Pastel, lápis-de-cor e caneta de feltro sobre papel, de Kivuthi Mbuno, 2006)

AQUÉM*

Podia entregar minha voz ao silêncio,
aconchegá-la no ralhar das calemas
calar…
escondê-la na renda fria dos cacimbos
cristalizar…
podia entregá-la à voracidade do tempo
petrificar…

podia prostituir meu corpo,
o templo castrado da Poesia
profanar…
podia… podia esquecer-me de ti… Poesia!
e desta mediocridade poética
que me transborda das vísceras
macilentas da alma…
sempre aquém das cantigas e kissanjes;
sempre aquém de tua voz quente de Povo;
sempre e sempre aquém do teu bafo
terra sangue sagrado que abraço!

*Namibiano Ferreira*
*(poeta angolano, poema inédito; 14/07/2008)

quinta-feira, julho 10, 2008

Não são flores

"Acácias de Benguela"
(Foto de
Carlos Pires)

Não são flores*

Não há flor que cante
toda a dor que sinto,
não há fantoche falante
que diga que minto.

É a verdade do nosso sorriso
e as lágrimas do nosso olhar
que ao longe diviso
irem encher o mar.

As flores não são flores
e os cravos não são de sol,
nesta vida só há dores
e flores murchas sem escol.

Na sombra da minha sepultura
sinto que não minto, mas sinto
a morte que nos beija e cura
a ferida que por aqui pinto.

Não são flores de verde pinho
nem sequer cravos encarnados,
são os espinhos do meu caminho
e as cicatrizes de filhos sacrificados.

*Orlando Castro*
*(jornalista, poeta e contista angolano-português;poema originalmente
aqui)

Poema Assanhado de Amor

"Trio"
(Tela a óleo, de
Armando Barrios, 1954)

POEMA ASSANHADO de AMOR*

Já sinto
teu cheiro de gata sem coleira,
castidade ou cinto
em "telhado de zinco quente"
se lambendo
se mordiscando
plena de tesura,
ansiedade da espera,
do teu gato, gatão,
muá, je, eu
que ainda não gemeu.

Gato que não dá miado
nem mia rouco,
tão pouco.

Porque não é bem gato
é tigróide no cio
que não lambe prato
só rosna no mato
da sua tigreza
cheia de natureza
amor, sexo e beleza
do beijo rosnado
no corpo amado
se elevando das miudezas
em glória nas alturas
cheios de dia-pasõn
em todas as cordas!

Total transmutatiõne!!

Oitavas no sétimo, kundalini
dedilhadas al dentinho
no violon da amada
neurónios nervudos esticados
no amplexo da entrega
ao domicílio de eros,
com cama sem sutra,
sem regra sem ama!

Pura émotion, agradável.
Amor, fina na mente!

*João Craveirinha*
*( Poeta, contista e artista plástico moçambicano; Nyamesoro Néngue wa (in) Suna (Feiticeiro Perna de Mosquito), Lisboa, 4 Julho 2008)