(Poesia)
(Imagem da Internet)
Angola (não) tem poetas?*
As minhas crianças de
barriga vazia
passam ao
lado de todos os natais,
esquecidas
pelos que fazem poesia
para ser
cantada nos seus funerais.
Os abutres do regime lá
comem tudo,
esquecem
que o povo morre à fome.
O poeta, esse mantém-se bem mudo
e tem como
musa aquilo que come.
Na frente de um prato de
lagosta cheio
nunca vê a
fome que ao seu lado toca,
e por isso
permanece absorto e alheio
aos que, ao
lado, só comem mandioca.
O poeta é hoje apenas um mercenário
ao serviço
do dono que o povo trama,
assume-se
como um reles e ordinário,
escravo que
chupa em qualquer mama.
Curva-se, aceita e amplia a
ordem dada,
lambe
sempre as botas do novo patrão.
Arrota,
pois claro!, postas de pescada,
abomina de
peito cheio o prato de pirão.
Cumpre ordens do dono e nada
o abala
nessa
sofreguidão de ter a barriga cheia.
Atirá-los,
a todos, do alto da Tundavala
ainda seria
pouco para uma tal alcateia.
Já não se lembram dos 30
angolares,
e trocaram
o peixe podre por caviar.
Agora a
colonial porrada se refilares
é para o
Povo que querem escravizar.
*Orlando Castro*
*(jornalista, poeta e ensaísta angolano;
Dezembro 2012)