O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

sexta-feira, maio 19, 2006

Estrada

“Luanda”
(Óleo em Tela de
Manuel Penha Graça, 2003)

Estrada*
.
Luanda Dondo vão,
cento e tal quilômetros
mangas e cajus
marcos brancos
meninos nus

Branco algodão
crescendo
corpos negros
na cacimba

O Lucala corre
confiante
indiferente à ponte que ignora

Verdes matas
Sangram vermelhas acácias
imbondeiros festejam
o minuto da flor anual

Na estrada
o rebanho alinha
pelo verde
verde capim

Adivinhados
caqui lacraus
de capacete giz
trazem a morte

Meninos
se embalam
em mães velhas
de varizes:

Rios azuis
da longa estrada

E é fevereiro
sardões as sol
Cassoalala

Eia Mucoso
tão cheio agora
Adivinhados
permanecem
lacraus caqui
capacetes giz

Não param as colheitas

Que razão seriam
fevereiro
acácias sangrando vermelho
verdes sisais
cantando o parto
da única flor?

Não param as colheitas!

*Luandino Vieira*
*(
escritor angolano, galardoado com o Prémio Camões 2006)

3 comentários:

Macro disse...

Mais um Prémio Camões está na calha...

abraço
Kissinger JOão Jardim

Anónimo disse...

Este poema também está publicado no site Noticias Lusofonas (www.noticiaslusofonas.com). Até pareceu tirado daqui.
Cmpts.
CP

None disse...

Um prémio merecido há já muito tempo. Um abraço.