O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Vento

"movimento, aite, tormenta, inmensidad, desasoguiego"
(Tela de
Judit González Barcina)

Vento*

Quando nascemos somos comunistas, mais tarde optamos, somos socialistas, finalmente damo-nos conta, somos neoliberalistas.
A essência do germinar das lápides estiradas, atiradas ao abandono. Reencontradas nas cavernosas, cavernas escusas, depois iluminadas pela alta voltagem inofensiva do sublime amor.
A história humana é o calvário, purgatório, martírio do amor da proporção divina nas listras zebrais, equilibradas entre o amar e viver Condenámo-nos à nascença a amar, mas recusamos, teimamos em odiar Não é ser, é ter alguém para confiar, divino em que acreditar Temos que apreender a dizer não, a este faz-tudo de amar clonado em vão. Evitemos que os vendedores revendam o ardor da paixão. Não podemos resumir esta contenda nos gestos augurais das vestais continentais.
As plantas ondulam porque amam o vento. Se este faltasse, o ódio reinaugurar-se-ia de verde amarelecido.
As asas do estímulo vivencial, são código genético desconhecido, que nos faz voar, perfumar, o aroma para amar. E quem isto ousar proibir, será proibido. Os sensores do amor quando activados ficam desordenados. No futuro serão bloqueados, porque perigarão os instrumentos sensíveis das naves interplanetárias. Será imaginado, recriado um longínquo planeta amoroso, para amantes eternos. Os circuitos do amor desafiam as leis e a velocidade física. Não há, não haverá máquina que calibre a sua invisível intensidade. Porém, ele esforça-se e tem mais que força, perenidade para viajar pelo infinito do Universo. Deixai que os sedentos bebam da sua água pura, para que a impureza da poluição das águas não cause pandemias, e aconteça a sua extinção. Apenas um minuto de imensidão amorosa, vale milhões de anos planetários. Para quê lutar, se estamos sempre presos nos tentáculos das areias movediças, acariciantes, desse eterno sentimento. Tudo se extingue, parece em vão, o amor não! O amor tem muitas pernas, mas quatro estão sempre presentes: duas femininas, e duas masculinas. O útero da deusa mãe aguarda o seu convidado, e os pés dos amantes movem a escala Richter.
Promete que amarás o amor, e nunca te cansarás da sua tentação. A diferença que existe entre o rico e o pobre, é que o pobre é rico de amor. E o rico vive na pobreza espiritual à procura do amor. A plenitude virá quando soarem as badaladas cardíacas, rítmicas do relógio bioquímico do nosso coração. Não haverá tormenta que nos domine, que nos separe, porque estamos acorrentados, desmaiados nesse sem sentido, perdidos nos outros sentidos.
Que sejam santificados os mártires do amor, e que nos próximos tempos um salmo planetário seja cantado na cosmologia. E dos suicidas infelizes apenas porque amaram… serão edificadas estátuas de beijos com luz estelar aos viajantes espaciais com a inscrição:
AOS INFELIZES DO AMOR TERRENO QUE APENAS AMARAM.

*Gil Gonçalves*
*(um português algures em Angola; conto original, Agosto2007)

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