O que é este Blogue?

Quando se junta uma amálgama de palavras, um conto ou um poema podem sempre emergir. A sua divulgação fará que não morram esconsos numa escura e funda gaveta. Daí que às minhas palavras quero juntar as de outros que desejem participar. Os meus trabalhos estão publicados sob o pseudónimo: "Lobitino Almeida N'gola". Nas fotos e pinturas cliquem nos nomes e acedam às fontes.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Zimbabué - A Luz de Natal na África

ZIMBABWE – A LUZ DE NATAL NA ÁFRICA*

Olhai, senhor ao povo Africano,
Semeando nesta Noite de Natal,
A caridade e a benevolência,
Preservando a vida e suas famílias,

Distanciando a fome e a sede,
Dos grandes massacres econômicos,
Resguardando sob a tua luz celestial,
Os filhos da mãe África.

Assegure aos teus filhos zimbabuenses,
Que fogem dos desastres econômicos,
Imigrantes desprotegidos sem labor,
Neste Natal, alivie com tua misericórdia,

Nossos irmãos zimbabuenses merecem,
A tua acolhida no seio da mãe pátria,
Com acesso e garantia de uma vida feliz,
Fortaleça! O Senhor Deus feito menino,

O manto sagrado em seu povo africano,
Não deixai os homens, mulheres e crianças,
Nesta gloriosa e louvável Noite de Natal,
No desespero de uma guerra econômica.

Veneras os frágeis zimbabuenses queridos,
Vítimas dos fracassos e ganâncias materiais,
Celebras na mente daquele faraó, a caridade,
Enfeitando o governo num estábulo fraterno.

Olhai senhor ao povo Africano!
Derramai no Zimbábue a paz,
Nesta Noite de Natal é Feliz,
E será Feliz pela compaixão divina,
Reluzindo sem cessar novas esperanças.

FELIZ NATAL

*Erasmo Shallkytton*
*(poeta e contista brasileiro; heterónimo de Erasmo José Lopes Costa; publicado inicialmente no Pululu e aqui)

domingo, dezembro 23, 2007

Natal



Natal*

Já não sei dizer Natal como sabia,
quando meu Natal, em minha aldeia,
era um presépio de musgo e de areia
e um menino adorando o Deus menino.

A família inteira, sentada ao borralho,
fazendo horas para a missa do galo
nessa noite fria cujo fogo nos aquecia
e nos dava alento para o ano inteiro.

Vou reaprender a dizer Natal, este Natal,
para que possa voltar a ser
alma de pássaro criança,
nestas memórias de infância.

Para que Deus me dê
nova estrela de Belém
que nos leve ao mais além.

Mas serão precisos muitos desses dias
para que, mais uma vez, possa nascer,
em figura humana, o meu Messias.

*José Adelino Maltez*
*(politólogo, ensaísta e poeta português; do livro de poesia“
Sphera, Spera, Sperança”)

terça-feira, dezembro 11, 2007

E Eu sou Eu

"Sem título"

E Eu sou Eu*

Aqui estou eu
Mestiço de negro e branco
Severo e brando
Obstinado e ocioso
Modesto e orgulhoso
Obsessivo e sereno
Manso e prudente
Agradável e egocêntrico
Talvez a lei dos contrários
Impere em mim
Ou talvez haja apenas
Uma simbiose de antíteses
O que faz de mim indivíduo
Pois é…
Eu sou eu.

Parede, 3 de Fevereiro de 1996

*Delmar Maia Gonçalves*
*(poeta moçambicano)

A Universalidade do Crente

"Universo"
(Desenho de
Deko)

A Universalidade do Crente*

Sou Cristão
Vou a Roma ou a Belém
Vou à Igreja
Ajoelho-me e oro
Leio a Bíblia Sagrada
Invoco Jesus Cristo
Rezo a Deus
Cumpro o meu dever
Retorno.

Sou Muçulmano
Vou à Meca ou Medina
Vou à Mesquita
Leio o Alcorão
Oro
Invoco Muahmmad
Rezo a Allah
Cumpro o meu dever
Retorno.

Sou Judeu
Vou à Telavive ou Jerusalém
Vou à Sinagoga
Leio o Torá
Oro
Faço a Tahanum
Invoco David e Salomão
Rezo a Adona
Cumpro o meu dever
Retorno.

Sou Hindu
Vou à Benares ou ao Ganges
Vou ao Templo
Leio o Gita
Medito e oro
Purifico-me
Invoco Krishna
Rezo a Om e Brahma
Cumpro o meu dever
Retorno.

Sou homem global
Crente de deus
E estou
Em sua busca.

Madorna/Parede, 29 de Outubro de 1994

*Delmar Maia Gonçalves*
*(poeta moçambicano)

A minha Casa

"Caminho de Casa"
(Tela de
José G. Pereira Neto)

A minha Casa*

A minha casa
É fácil de localizar
É fácil de encontrar,
Basta ires sempre em frente
Para além da linha do horizonte
É fácil concerteza

Primeiro encontras lixo
Lixo e pessoas em convivência
E em harmonia,
Lixo na parte de baixo
E na parte de cima
Lixo e pessoas em convivência íntima

Mais adiante
E com o mau cheiro crescente
Encontras uma lagoa
E nela, crianças a banharem
Crianças a brincarem
Na maior, numa boa

Mais a frente
Entras em becos estreitos
Becos pequenos e apertaditos
É fácil, é só teres isto em mente
Becos e suas enxurradas
Becos e suas águas estagnadas

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a água corrente
Lá onde a água potável
Passa muito distante
E da cor do invisível!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a luz eléctrica
Connosco brinca
Qual nuvem passageira
Que ora vai, ora vem zombateira!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Cheiro de kaporroto no ar
Cheiro de kimbombo a vibrar
Nossas bebidas do dia-a-dia
Nossas bebidas nossa companhia

E no quintal da minha casa
Há jovens a falar alto bêbedos
Jovens cansados, frustrados e arrebentados
São os meus kambas
Kambas das bebedeiras e das malambas
É fácil de localizar concerteza,

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte!

Glossário:
Becos: ruelas tipicas dos musseques, dos bairros pobres
Kambas: amigos
Malambas: tristezas, amarguras, conversas, palavras
Kaporroto: bebida caseira angolana
Kimbombo: bebida caseira angolana


*Décio Bettencourt Mateus*
*(poeta angolano; poema da obra “Fúria do Mar”; retirado
daqui)

Conversas com um Kamba

"Amigos"
(Tela de
Rui Cabrita)

Conversas com um Kamba*

Outro dia vi-te, algures num canto qualquer
Falavas asneiras
E baboseiras
À mistura
Pensei, talvez loucura
Bem me lembro, vi-te num dia qualquer a não esquecer

Falavas amargurado e revoltado
De coisas que se pensam
E não se falam
Falavas amargurado
E sonhavas com um passado há muito enterrado
Com um passado há muito passado!

Falavas também de um futuro que nunca existiu
Um futuro com que sonhaste um dia
Um futuro utopia
Que até se cansou e desistiu
De ser o futuro adiado
Cansou e desistiu de ser o futuro abortado!

E te revoltavas com a dor vinda dos outros
Pois como sonhador
Já não sentias a tua dor
Mas era a dor dos outros que te afligia
Era a dor dos outros que te atingia
E te revoltavas com a dor vinda dos nossos

Falavas destas coisas, amargurado
Falavas de futuros doutores
Futuros pensadores
Nas ruas feitos ambulantes
Torrados por raios de sol escaldantes
Torrados por porretes de fiscais malvados!

Falavas também a amargura, das tuas manas bonitas
Das tuas manas feitas prostitutas
Feitas kitatas
Numa qualquer esquina da Mutamba
Vindas dos musseques do Cazenga, Rangel, Samba…
Falavas destas coisas meu kamba

Depois lastimaste o estado das estradas
Gerações e gerações de buracos
A prosperarem
Gerações e gerações de crateras a se multiplicarem
E a imundice dos musseques e seus becos
E das suas gentes cansadas!

Depois meu amigo, não mais ouvi de ti
Não mais te vi numa qualquer esquina de Luanda
Ou mesmo desta Angola
Desta terra bela
Depois, recebi uma missiva em que dizias lacónico, “parti
E sou um frustrado fora da banda!”

Glossário:
Kamba: amigo, companheiro

*Décio Bettencourt Mateus*
*(poeta angolano; poema da obra "Os Meus Pés Descalços";
daqui)