"Ilha do Fogo, Cabo Verde"
Quando me levanto e confronto o mundo, quando me perguntam o quê, quando me perguntam porquê, quando me faltam as forças, quando as não consigo conter, quando conquisto o mundo, quando me deixo vencer…
Ao olhar o espelho, sorrindo a uma imagem distorcida – pelo tempo, pela emoção, pela contradição – reparo se não seria assim, caso fosse de outra maneira.
Se não fosse quem sou, não seria uma falsidade projectada da mesma forma, sob a fraude do espelho, esse salteador de memórias, que nos não vê como queremos, mas sim como quer, que não respeita o que cremos, quando cremos apenas em nós mesmos?
E poderá ser ele culpado por esta ironia do destino?
Claro que sim.
Ele, ele e não eu é o verdadeiro culpado pela discordância entre o ser e o ver.
Que seja por isso banido! Não o objecto: o que ele representa. Toda a mentira que encerra por não nos mostrar a verdade – pelo menos a que desejaríamos ver.
Então viva! Já tenho culpado para toda a frustração, toda a confusão, toda a inexplicável envolvência deste estranho lugar a que chamamos mundo, a que chamamos casa.
E a ele somente estarei eternamente grato. Sem a força – ainda que só para mim real – que me transmitiu, como poderia enfrentar esta vida sem lógica?
Talvez por isso também, sinta agora a sua falta. Muita presunção da minha parte achar que era realmente possível.
Não.
Não é, de facto, possível a vida sem a (des)ilusão.
Só espero poder um dia reaver o meu querido espelho.
Ainda que saiba que tal não será jamais possível, contento-mo com o leve e indefinido chamamento do mar.
Pois também ele me permite, agora e uma vez mais, vislumbrar o azul…
*Orlando Manuel Gilberto de Castro*
*(jovem estudante português; os novos autores da Lusofonia)
.
Vislumbrar o azul*
Quando me levanto e confronto o mundo, quando me perguntam o quê, quando me perguntam porquê, quando me faltam as forças, quando as não consigo conter, quando conquisto o mundo, quando me deixo vencer…
Ao olhar o espelho, sorrindo a uma imagem distorcida – pelo tempo, pela emoção, pela contradição – reparo se não seria assim, caso fosse de outra maneira.
Se não fosse quem sou, não seria uma falsidade projectada da mesma forma, sob a fraude do espelho, esse salteador de memórias, que nos não vê como queremos, mas sim como quer, que não respeita o que cremos, quando cremos apenas em nós mesmos?
E poderá ser ele culpado por esta ironia do destino?
Claro que sim.
Ele, ele e não eu é o verdadeiro culpado pela discordância entre o ser e o ver.
Que seja por isso banido! Não o objecto: o que ele representa. Toda a mentira que encerra por não nos mostrar a verdade – pelo menos a que desejaríamos ver.
Então viva! Já tenho culpado para toda a frustração, toda a confusão, toda a inexplicável envolvência deste estranho lugar a que chamamos mundo, a que chamamos casa.
E a ele somente estarei eternamente grato. Sem a força – ainda que só para mim real – que me transmitiu, como poderia enfrentar esta vida sem lógica?
Talvez por isso também, sinta agora a sua falta. Muita presunção da minha parte achar que era realmente possível.
Não.
Não é, de facto, possível a vida sem a (des)ilusão.
Só espero poder um dia reaver o meu querido espelho.
Ainda que saiba que tal não será jamais possível, contento-mo com o leve e indefinido chamamento do mar.
Pois também ele me permite, agora e uma vez mais, vislumbrar o azul…
*Orlando Manuel Gilberto de Castro*
*(jovem estudante português; os novos autores da Lusofonia)
1 comentário:
Lindo!
Também vivo em ilhas, espero brevemente, poder conhecer algumas de Cabo Verde.
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